Trecho Luxemburgo - Bruxelas

Rot caminha no corredor do trem com seu bilhete na mão

*cabine 23...23...23*

Finalmente o brujah encontra sua cabine. Ele entra da uma olhada rápida em seu interior e acomoda sua bagagem em pé num canto na que dificilmente caberia na área destinada às malas. O alemão dá uma ultima conferida no corredor, olha pela janela para a estação esvaziada e se acomoda na poltrona.

*Uma hora perdida*

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'- Parece. É uma ótima coincidência que neste trem vazio a gente tenha comprado bilhetes numa mesma cabine...'

Rot diz essas palavras sempre fitando o sujeito nos olhos sem demonstrar qualquer agressividade com o desconhecido.

'... mas já que essa coincidência aconteceu... senta aí.'

O brujah faz um gesto com a ponta do queixo indicando ao estranho o assento a sua frente. Rot o observa enquanto espera que ele sente.

Depois disso, continua o brujah

'- Como se chama?'

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Rot ao ver a cara e sentir o cheiro real do estranho engole seco e se segura para não partir pra cima do infeliz numa atitude de puro reflexo diante do susto. Ele crava uma das mãos no braço da poltrona em que estava sentado deixando cinco furos. De olhos vidrados o brujah é imediatamente remetido de volta ao convívio dos ratos e do cheiro de carne podre das trincheiras da primeira grande guerra. Ele fecha uma das mãos instintivamente enquanto não consegue evitar de levar a outra ao rosto para tapar sua boca e nariz. Passados alguns segundos do impacto inicial ele abaixa a mão e comenta.

'- Puta que pariu, que fedor!'

Eram lembranças enterradas em algum lugar obscuro da mente do soldado e que talvez o novo momento em sua não vida tenha trazido à tona.

E continua:

'- Me chamo Karl Rot.' - diz enquanto abaixa devagar a mão na medida em que se acostuma com o fedor e, então, acena levemente com a cabeça em cumprimento ao fedorento ali na sua frente.

'- Tem razão. Não sei como pude ser tão estúpido em não observar uma das colunas que sustentam nossa seita.'

Ele observa, mesmo com aquela cara, o sujeito por breves segundos antes de continuar.

'- Se puder me levar ao encontro do Príncipe ficarei feliz em me colocar a disposição para corrigir essa merda.'

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O sorriso desdentado do nosferatu lembra Rot que ele não tinha como sair ileso daquela situação. Era preciso entregar algo para os ratos de esgoto.

'- Todos temos segredos, é uma necessidade. Você precisa ser mais específico sobre o que seria do agrado do Príncipe.'

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Rot não esboça reação diante das palavras de Cara de Rato. Impassível, o brujah fita o feioso enquanto sua mente tenta dar conta do que fazer.

* Posso mentir. Já que é um segredo, como esse filho da puta vai saber que é uma mentira?........ Mas com os recursos que possuem é difícil que ela se mantenha por muito tempo.*

*Posso matar esse desgraçado!... E ter o mesmo destino antes mesmo desse trem chegar em Luxemburgo.*

*Posso entregar o Tremere!... Entregar pelo que mesmo? Qualquer pergunta dele sobre esse assunto leva aos motivos e me colocam num beco sem saída.*

Pensamentos se sucedem em fração de segundos enquanto o silêncio da cabine é invadida pelo som abafado do trem se deslocando. Luzes passam rapidamente na janela do trem, mas são incapazes de atrair a atenção do brujah que mantem seu olhar fixo em Cara de Rato.

*Böses mit Gutem vergelten*

Rot se acomoda levemente na poltrona e permanece olhando o Nosferatu agora com um semblante um pouco diferente, talvez em dúvida.

*Böses mit Gutem vergelten... Bom retorno para o mal... e se essa encruzilhada não for apenas ruim?*

O brujah começa a especular sobre a política cainita naquela região. Conhecia o estilo Ventrue de lidar com as coisas e sabia que os Nosferatus da região não se enquadravam bem no papel de aliados da realeza. Sabia do papel que cumpria nesse jogo e de suas consequências. Quem sabe os nosferatus não fossem um problema e sim um importante aliado para sua causa. Quem sabe isso fosse a saída possível daquela situação. Sua intuição dizia isso.

Completamente concentrado em Cara de Rato, Rot, ao perceber uma pequena alteração na fisionomia do nosferatu indicando que falaria algo, dispara seco:

"- Consegui quebrar o laço de sangue com a Ventrue que me dominava... E ela não sabe disso."

O som abafado do deslocamento do trem volta a invadir o silêncio da cabine e o Brujah apenas observa a reação de seu interlocutor.

Com o olhar fixo no Nosferatu, Rot ouve o comentário e observa Cara de Rato se levantar e caminhar sua direção. O cheiro que já era difícil assume ares de suplício diante da proximidade. Não adiantava tapar o nariz, usar máscara, dar banho de creolina, formol, ácido, sabão amarelo, etc, o brujah percebia que mesmo se ouvesse uma outra vida Cara de Rato teria aquele mesmo fedor sufocante.

O Brujah aperta novamente o braço da poltrona onde está sentado aumentando a profundidade dos furos já existentes enquanto sente aquele fedor tornar o ar mais denso e pesado. Rot sente o cheiro invadir seu corpo morto por todos os poros até impregnar seus ossos; seus olhos marejarem obrigando o Brujah a comprimir sua feição na tentativa de evitar a aparição de uma lágrima; sua língua ser impregnada pelo gosto acre (pra dizer o mínimo) daquele fedor. Viver na lama das trincheiras entre ratos e corpos putrefatos era uma imagem infinitamente mais agradável do que aquela situação.

Mesmo usando um casaco grosso e uma camisa de malha a gosma de Cara de Rato toca seu ombro como se nada houvesse entre ela e a pela do Brujah. Na medida em que escorre o Brujah é obrigado a sentir sua textura úmida atravessando suas roupas até molhar seu ombro e se espalhar por seu braço e peito. Enquanto o Nosferatu se inclina para sussurrar algo em seu ouvido Rot não consegue evitar o asco em sua feição ao mesmo tempo em que esmaga a ponta do braço da poltrona em que está sentado.

*Se ela devia temer?*

Sem que soubesse, as palavras sussurradas por Cara de Rato serviram de salvação para o Brujah que já estava em seu limite. Se Cara de Rato estivesse observando Rot nos olhos talvez percebesse sua mudança. O asco aos poucos dá lugar à cara séria e focada de antes, mesmo com todo o fedor que continua a dominar o lugar.

Sem mudar de posição Rot fala com voz séria e resoluta:

'- Isso é outro segredo.'

O Brujah permanece altivo e imóvel esperando que Cara de Rato pare com aquela palhaçada e diga o que quer.

Karl relaxa um pouco a medida que Cara de Rato se afasta. O brujah escuta o primeiro comentário e tenta complementar a frase sem interromper o raciocínio do nosferatu, mas se fazendo ouvir.

'... ou pode oferecer algo em troca.'

Ele ignora o segundo comentário. Sua intuição lhe dizia que aquela situação podia render mais.

*Böses mit gutem vergelten*

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A risada de Cara de Rato não agrada o brujah.

*Sou um soldado e não um imbecil*

Não era um investigador, muito menos um negociador como o nosferatu, mas um soldado também poderia jogar aquele jogo. No entanto, corroborando a impressão do feioso, numa clara demonstração de sua pouca aptidão para barganhas o alemão vai direto ao assunto

'- Que tal apoio em Luxemburgo?'

'- Claro!' Sentencia o brujah diante das palavras de Cara de Rato.

'- Quem diria que um erro pudesse ser tão proveitoso....'

O brujah não estava feliz por ter seu segredo na boca dos nosferatus, mas era algo que ele não podia evitar.

'-... que tal me dar seu contato pra da próxima vez que vier à cidade eu não cometer o mesmo erro?'

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'- Assim espero.' - Responde o brujah sem a intenção de ser rude com seu interlocutor, era apenas seu jeito.

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O Nosferatu apenas desaparece diante dos olhos de Karl. A viagem seguia sem maiores sobressaltos. Em instantes, chegaria finalmente à Luxemburgo.


 O próximo post de Karl Rot deve ser feito na Estação Luxemburgo do Expresso Europeu.

Karl caminha pela estação com a sensação de estar sendo observado. Instintivamente passa a segurar sua mochila com a mão menos hábil e de forma a dar maior segurança ao bolso em que estava a carta de del Toro. Sua outra mão estava cerrada e pronta pra briga. Seu rosto transparecia a tensão que embalava o brujah naquela movimentada estação.

Ele entra no trem e caminha em direção à sua cabine no fundo da composição. Mesmo ali a sensação continuava. Na medida em que caminhava ele observava por onde passava, se voltando em alguns momentos para conferir se alguém o seguia ali dentro do trem.

Finalmente o alemão chega em sua cabine. Prontamente ele acomoda sua mochila ao lado da poltrona que estava marcada em que resolvera sentar. Dessa vez ele resolve não tirar o casaco que além da carta também acomodava uma de suas armas.

Era hora de partir.

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Nem bem se acomoda na cabine e o brujah já arruma companhia. Uma bela mulher entra, acomoda a bagagem e cumprimenta o alemão que responde:

"Boa noite, senhora."

Karl apenas observa a estranha sentar com um livro às mãos. Ele o abre e começa a ler enquanto olha de relance para Karl que permanece observando a bela Signora. Já que a viagem demoraria um pouco, o alemão resolve puxar assunto com sua companheira de cabine.

"Pelo sotaque me parece um pouco longe de casa. Veio a trabalho ou a lazer?"

Enquanto puxa assunto Karl tenta reconhecer o livro que a desconhecida trazia consigo.